O que a saga do pequeno Wigan pode ensinar aos clubes brasileiros?
Do outro lado do atlântico o pequeno Wigan continua a sua saga à espera de um comprador para tirar o time do fundo do poço¹. Mas o que o caso Wigan pode deixar de lição para o futebol brasileiro, no momento em que muito se discute, através do PL 5.082/2016, a criação do modelo de clube-empresa aos clubes no Brasil, como alternativa à ao tradicional modelo associativo?
Contextualizando, o Wigan foi o primeiro clube inglês a pedir recuperação judicial, em julho deste ano, por causa da pandemia da Covid-19, menos de um mês após ter sido comprado por um fundo de Hong Kong (Next Leader Fund).
Como consequência, o clube foi penalizado com a perda de 12 pontos na EFL Championship (2ª divisão) e acabou rebaixado à League One (3ª divisão), onde amarga atualmente a última colocação.
Atualmente gerido por uma adminsitração liquidante, o clube aguarda agora a aprovação da EFL para seguir o seu processo de venda, provavelmente para Felipe Moreno, propietário do clube espanho Leganés.
Embora inserido em outro contexto econômico e empresarial o “caso Wigan” pode servir de paradigma para os clubes brasileiros que pretendem, quando possível, se converter em empresas até porque tal modelo tende a ser utilizado justamente pelos clubes pequenos (como o Wigan) que enxergam no clube-empresa uma forma de atrair investidores e reduzir a diferença econômica para os grande clubes do país.
Dentre as lições, podemos citar:
- A mais básica de todas: o que define o sucesso de um clube de futebol não é necessariamente a forma de organização (empresarial ou associativa), mas sim a gestão profissional. Assim como um clube-empresa pode ter problemas sérios de gestão, uma associação pode ser bem sucedida se administrada sob as melhores práticas de governança e gestão.
- O marco regulatório brasileiro sobre o tema precisa ser extremamente criterioso sobre quem pode adquirir o controle de um clube-empresa. Imprescindível se faz, portanto, uma análise sobre as garantias de que quem adquire um clube possui boa-fé, lisura e capacidade financeira para manter o fluxo financeiro necessário à manutenção da atividade do clube.
- Tão importante quanto manter a saúde dos clubes individualmente considerados, a regulamentação deve visar ao bem maior que é a manutenção da saúde das próprias competições. Assim como no sistema bancário (guardadas às devidas proporções, por evidente), a quebra de um clube traz problemas para o contexto no qual todos os outros estão também inseridos, seja em termos esportivos, seja em termos financeiros. A quebra de um pode fatalemente levar a um efeito cascata devastador.
A diferença cambial, no país do futebol, onde a cada dia um novo craque suge nas periferias pode tornar o nosso país muito atrativo para quem quiser investir no setor. Assim, uma alternativa como a do clube-empresa deve ser vista com muitos bons olhos.
Entretanto, importante olharmos os exemplos de quem já experimenta, há muito, este modelo e trazer as lições aplicáveis ao nosso contexto.
Afinal, como nos ensinou recentemente Beto Sicupura¹, a grande vantagem do atraso é a possibilidade de aprender. De copiar, melhorar e avançar. Não há inovação melhor do que essa.